quinta-feira, 28 de outubro de 2010

1924



    Eu tenho alguns hobbies, e o principal deles é colecionar coisas. Selos, moedas, cédulas, rótulos de cerveja e charutos, medalhas e condecorações do exército vermelho, cartões postais e festivos antigos. Por esses dias atrás eu estava organizando esses tesouros pessoais, e me deparei com um cartão comemorativo ao dia dos namorados, datado de 1924. O mesmo dizia assim: "Em teus olhos o sorriso é raio primaveril que promete um paraíso cheio de venturas mil". - Transladei-me pelo tempo, reencarnando-me no ano da morte de Lênin, e através das pautas da imaginação pensei naquela mulher, com olhar e sorriso tão dignos de receber tamanha homenagem. Pensei ainda naquele cavalheiro, homem verdadeiro, viril a ponto de rasgar-se em sensibilidade, sem temer as conseqüências de abrir seu peito na frente de uma mulher. Uma só palavra, pelo fio de seu bigode.

    Ao despertar da realidade, olhei a minha volta e já, por mais uma vez, renunciei dois mil e dez. Sou o filho bastardo de uma geração perdida, quase extinto por optar viver a diferença, por escolher uma só palavra, um só ideal. É claro que já tive meus momentos de sacana, ou laços rebeldes em tentativas frustradas de assassinar minha essência em muitos mudos gritos desesperados pelo direito de ser mais um, a nadar em todo esse lodo que se formou na piscina social. É claro que foram apenas flashes, pois bem sei que a porca lavada retorna a seu vômito. A porca, não eu.

    Eu por vezes escrevi a respeito dos homens e suas falhas, por vezes acreditei que a degeneração feminina era a colheita das sementes que plantamos. Bem, é, mas não apenas isso, outros fatores ainda me eram obscuros, porem a cada dia mais a balança se põe ao meio. O movimento feminista é um grande contrapeso, primeiro por dar legalidade a existência do machismo. Justiça seja feita, não gosto de ambos, mas se feministas se julgam no direito existencial, não podem reclamar que seus adversários ainda resistam a existir. Pessoas são iguais em grandeza, diferindo-se habilidades. Até mesmo uma feminista perde seu ideal na hora em que um botijão de gás cheio precisa ser levado para dentro de casa. Foi sim um movimento muito importante, pois lutou um combate digno e necessário, conquistou direitos a voto, melhores soldos, e até mesmo algumas proteções exclusivas, como a tal Maria da Penha. Mas passou, fez o seu papel com brilhantismo e está consumado. Resta hoje o oportunismo e a justificação, que na verdade é a necessidade de um ideal de boca pra fora. É a vacina contra classificações levianas, uma luta sem riscos, sem cara a bater, sem balas ou canhões, apenas palavras, palavras e palavras. Todas ao vento.
   Sou a favor sim das femininas. Mulheres que reconhecem sua grandeza, impõem seu respeito diante dos homens, sem a pretensão de tornar-se viris como eles. São mulheres fortes, fortíssimas, colossais, que com delicadeza e sabedoria conquistam tudo o que precisam, sem estardalhaços ou algazarras. São essas mulheres musculosas, que se escondem em corpos franzinos e se lambuzam de batom, que mudaram seus destinos. Me desculpem as feministas contemporâneas, mas se dependessem no passado de mulheres com axilas cabeludas, hoje ainda teriam motivos para lutar por igualdade.

    Mulheres modernas, não mais femininas, vocês conseguiram herdar a vergonha quando tinham honra nas mãos, sempre reclamaram da poligamia dos homens e ironicamente tornaram-se como eles. Vocês mulheres que tanto lutaram para exigir respeito e igualdade conseguindo tornar-se tão livres para escolher, escolheram ser chamadas de cachorras, tchutchucas, frutas ou samambaias. Para isso que tanto desejaram espaço nas caixas de imagens? É tão cômodo jogar a culpa de tudo nos homens. Me perdoem mais uma vez ainda, mas nós somente somos tratados como nos permitimos ser, e se hoje vocês acham bregas e ultrapassadas as palavras de Pixinguinha e Nelson Gonçalves, que tanto vos cortejaram, optando pelos negros dizeres de MC Serginho, sim, vocês são cachorras, e as culpadas disso são vocês, uma vez que aceitaram ser tratadas assim. Se reclamam por não serem mais conquistadas, azar, quem mandou ir pra balada e ficar com o primeiro carinha que chegou com papinho mole pro teu lado? Pior ainda, quem mandou ir pro motel com ele na primeira noite? Você é o que se permite ser. Se chora um choro de chorume quando traída, bem feito, quem mandou dar ibope para cantores sertanejos que apóiam a mentira e a poligamia? Suas escolhas vos colocaram no banco dos réus. Você é apenas o que se permite ser.

    Conheço mulheres femininas, e tal como eu, sofrem das mesmas apatias, não conseguem se enquadrar, e tornaram-se seletivas em demasia. Geralmente estão sozinhas, em busca de um amor. Mas uma coisa essas mulheres tem: Respeito. Elas são o que decidiram ser, e homem vagabundo algum se aproxima e consegue ludibria-las. São mulheres assim que possuem sorrisos como raios primaveris. Somente estas estão destinadas a possuir raridades, que por sua vez são homens capazes de fazer de vossos corpos fortalezas de amores eternos. Quanto as demais mulheres, minhas irônicas congratulações: Vocês conseguiram se tornar iguais a nós. Aos piores de nós, aliás.
   
(Allen Cristhian - 29 de Outubro de 2010)
 

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Geração ópion

ÓPIO: - s.m. Substância extraída de cápsulas maduras de diversas espécies de papoulas soníferas. (O uso do ópio mascado ou fumado, que se espalhou no Oriente, provoca euforia, seguida de um sono onírico; o uso repetido conduz ao hábito, à dependência física, e a seguir a uma decadência física e intelectual, uma vez que é efetivamente um veneno estupefaciente. A medicina o utiliza, assim como os alcalóides que ele contém [morfina, papaverina], como sonífero analgésico.) / Fig. O que causa embrutecimento moral; o que embota; narcótico.


Ópion
Os louros da geração entorpecida, sinérgica com todos os grandes generais. 


    Prisioneiros de um eterno ocaso, deslumbrados com a clara noite de um duradouro dia sem amanhã. Caiado céu brasileiro, em contos, histórias e fábulas, narradas por diversos coronéis de um povo resignado. É a história, é a vida de um país, milhões de pessoas, várias idéias, um denominador comum: Entorpecentes Sociais.

    O Simiesco: Tupiniquim neandertalis, mais conhecido como brasileiro, é um animal doutrinado pelo ópio social. Sua criação involutiva o direciona a ser um adorador de totens e bandeiras. São estes que lhes dão alegria e motivação para viver (leia-se: sobreviver) em um habitat tão desfavorável. Sua base alimentar constituí-se basicamente de grãos, principalmente arroz e feijão. Alguns poucos membros da espécie, tem uma alimentação diversificada, que muda de acordo com sua posição no bando. Os brasileiros que se alimentam basicamente de arroz e feijão, são recompensados, com os totens e bandeiras citados anteriormente, são estes fácilmente reconhecidos em todo o grupo, e levam nomes que geram euforia e até mesmo lágrimas quando pronunciados. Corinthians, Flamengo, Bangu, Reestart, Lady Gaga, Mangueira, Portela, Católica e Protestante, são exemplos totêmicos venerados pela espécie. Quando na presença dos mesmos, os Tupiniquins neandertalis, milagrosamente se esquecem do arroz, do feijão, da fome, da sede e do frio, se esquecem também da fila, do câncer, e da vida, além de ficarem cegos temporariamente, fenômeno que não atinge o topo da casta. Estes (que estão no topo) por sua vez, aproveitam-se dos momentos litúrgicos de seus companheiros, para conseguir sua diversidade alimentar. É um escambo gerado pelo entorpecimento da grande maioria simiesca. Os brasileiros, são dóceis, e facilmente domesticáveis, tal qual os cachorros, trocam sua liberdade e sua identidade, por punhados de ração e brinquedinhos para roer. Não se dão conta que ao contrário dos cães, que são irracionais, estes são racionalmente dominados, apenas não percebem, pois estão com seus olhares sempre voltados para seus totens.

    Os capitães que marcham a frente do bando, geralmente são mais desenvolvidos, se alimentam de forma diversificada e não se distraem tanto com totens. O grande problema destes, é que, o que lhes sobra em concentração, lhes falta em pensamento coletivo e caráter, fenômeno que por sua vez acaba gerando as tais castas citadas anteriormente. É um grande círculo vicioso, que permite que uma minoria mais informada e concentrada na realidade do habitat, possa excercer o domínio sobre toda a espécie, aproveitando-se de sua distração e cegueira. Os capitães do bando, geralmente são bem informados, aprendizes dos grandes xamãs, e desenvolveram a técnica e o hábito da leitura. Tem noções de política, e de história. Desta última, uma lição que lhes fora muito benéfica: O Pão e Circo, ofertado em outras sociedades simiescas, como a romana por exemplo.

    Existe um terceiro grupo na espécie, denominado: Homo Sapiens Tupiniquins. Estes atingiram um grau mais evoluído: Lêem, escrevem, sabem, lutam, choram, sentem e pensam. Possuem punho forte, e cerram-no para alto em tentativas frustradas que visam despertar a igualdade entre os demais. O grande problema é que ainda são uma minoria, e acabam ficando isolados de todo resto do bando - dos generais, pois escolhem assim, sabem que estes não tem motivos para evoluír, uma vez que se entregaram ao comodismo de poder se alimentar às custas do bando. E também, estão isolados da massa que venera totens e se alimentam de arroz e feijão. Estes ainda preferem seus Corinthians, Flamengos, Bangus, Reestarts, Ladys Gaga, Mangueiras, Portelas, Católicos e Protestantes, à liberdade.

(Allen Cristhian - Londrina, 11 de Outubro de 2010) 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Uma História de Brasil.

Levantou-se como um, foi marchando ao horizonte, mas seguiu separado.
Acreditou que era humano, enquanto apenas era, marionete manipulado.
Gritou fortemente aos quatros ventos, o pífio brado de um povo calado.
Concebeu o ingresso a grande besta, consagrou-a, e continuou escravizado.

Telecinético povo brasileiro! Que sem toque, que sem tato, traz o mal até a nós.
Paranormal tupiniquim! Realizando o sobrenatural, ressuscitando mais um algoz!
Sensitivo patriota! Sente fome, sente frio, e padece calmamente em leito atroz.

Milagreiro anestesista! Cala a dor, cala a fome, e cala a boca; com ou sem dinheiro!
Milionário Donatário! Doa a bolsa: para o o estudante, para a família, e o Banqueiro.
Minoria Senhoria! O Anestesista é padeiro, donatário, o palhaço, de um grande picadeiro!

Levantou-se como marionete - Sem ânimo, sem força, sem trabalho, sem arado.
Acreditou que era livre, e descobriu que não passava, de um escravo comprado.
Gritou calado; sua dor e sua miséria, quando tardio acordou desesperado.
Concebeu a culpa, votou errado, levando novamente a grande besta até o senado!

(Allen Cristhian - Londrina, 06 de Outubro de 2010)

sábado, 2 de outubro de 2010

Germinal

 
 
Vendémiaire, brumaire, frimaire! Primavera!
O prisma que explode em cantos e encantos...

Deixe de ser cinza glacial, dia meu!
É hora de florir, florir para colorir...
Nessa noite de encantos, que inicia o êxtase primaveril,
Em cores, sorrisos e cantos, cheios de venturas mil.

Vendémiaire, brumaire, frimaire! Primavera!
O prisma que em cores, explodiu!

(Allen Cristhian - 2 de Outubro de 2010)