segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Nosce te ipsum"

Como entender aquilo que penso de forma primorosa?

Clarisse Lispector, com sua eloqüente falácia acerca daquilo que é óbvio em demasia que me perdoe, mas, ao afirmar não saber quem era, declarou-se ingênuamente incapaz de aprofundar-se ao universo humano. Louros para Sócrates: "Nosce te ipsum".

Eu sou eu, apenas isso, Allen Cristhian, ou somente Allen se preferir. Sou aquele cara pacato que fuma seu cachimbo na entrada do bar, o homem desantenado, sempre o póstumo a conhecer os maiores sucessos barulhentos das últimas horas. Música não é o que se faz hoje, penso eu; música é aquilo que tomei para mim: Bossa Nova, Jazz, Blues, Samba (Aquele que Noel cantava), a arte de Chopin, e uma pitada do bom e velho Rock And Roll. Eu sou o inquisitor dos tempos modernos, o algoz dos "a-poetizados", aquele quem em dúvida lança a mesa uma carta marcada, denominada: Por quê?

Eu sou aquele homem envolto na lava vezuviana do tempo, petrificado por toda a eternidade em uma época que já se fora, preservado como troféu dos caprichos de Deus nos dias de hoje. O Amargo e o doce.
Eu sou aquele que vai sentar-se na távola das tavernas contigo e flutuar nas pautas da ignorância quando lhe ouvir dizer acerca dos tunnings de sua carruagem, e ainda, aquele que não moverá um músculo da face quando seus gladiores tricolores, alvi-negros ou "rubro-verdes", triunfarem em suas arenas.

Eu sou aquele que enxergas espelhos em certos caprichos e arrogâncias, mas que derruba lágrimas em dores alheias. Eu sou a o grão que entope o canal da ampulheta, e o espinho na carne dos clérigos. Espero o negativo para surpreender-me e valorizar em demasia as virtudes eminentes que surgem iminentes em outem. Sou oriundo do alfa, e espero estar distante do ômega. Amo o infinito do meu relógio de bolso, e, anseio dar muitas e muitas cordas no mesmo.

Qual a graça do uísque retirado de tonéis novos? O homem apenas amadurece quando se permite envelhecer, é claro, não nescessariamente dançando o tango tocado pelo bandoneon de Chronos.
O fruto deleitoso do cachimbo é a arte de manusear; Limpar sua piteira, seu filtro, amaciá-lo, entender dos tipos de tabaco e em quais ocasiões os saborear; Assim sou eu com meu ofício, faço pois me dá prazer.

Tão jovem, tão velho, nuances do menino-homem que sou, quando faço a dança da chuva para ir dançar lá fora quando ela caír. Prazeres meus, um aspirante a "velho", perdido sem desejos de encontrar-se em crimes e castigos, guerras e paz.
Encatado menino que sou ao ter aprendido a respeitar tesouros que tornaram-se invisíveis a grande parte de minha geração. Meu combustível é o amor pelas palavras de Neruda, o respeito pela sabedoria de Galeano, o "brasileirismo" que herdei de um Ariano residente em Recife. O meu eu é constituído de saber aquilo que sei, coisas simples, como reconhecer o bigode de Toquinho, entender quando "Vininha" apresentava-se munido de uísque e não o oferecia a sua platéia, saber rir-se dos tiques do "Tonzinho", jubilar com o canto de Ossanha, e extasiar-me ao ver o velho Chico brincando com nosso idioma, como se fosse autorama e pogobol.

Os Titãs "gloriosos" de minha geração que me absolvam pelo que hei de dizer; mas vejo-os marchando para uma batalha perdida, como cabras rumando ao abatedouro. Não sabem que Zeus os espera? Confiam demais em sua aparência, e no que dizem os magos das caixas de imagens. Não se iludam com as mentiras desses homens, assim certamente vos falaria Zaratustra. Apeguem-se ao que é real nas tribunas diárias, mas pensem por vocês, não sigam o caminho daqueles que vos escrevem coisas contrárias as que os sábios do passado vos escreveram, o ofício dos mesmos não é movido pela "arte de manusear", e sim por denários e punhados de sal. Polemizem contra aquilo que julgam estar em desacordo comum, se é individual perdoem, "problema é dele", mas se coletivo, manifestem-se. Meninos, que não se permitem "envelhecer", penso que não enxergam os monocromáticos tons de suas artes preferidas, não percebem que as mesmas perderam a cor? Suas melodias já não falam de amor, mas sim de ódio, seus poemas desbotaram. Meninos, vocês trocaram o futebol com traves confeccionadas de havaianas no asfalto quente por arcades violêntos, não percebem que isso envenena não só a vocês, mas também a outros que um dia hão de achar normal se fores assassinados?

"Nosce te ipsum" - Nescessário é, conhecer a ti mesmo, para assim então, entender de todos nós.

Eu sou apenas eu, Allen Cristhian, ou Allen se preferir.


(Allen Cristhian - 23 de Março de 2010 - Londrina / PR - Brasil)

2 comentários:

  1. Um dos meus textos de cabeceira,valeu Allen por servir a humanidade com seu dom
    Vida e força a ti hoje e sempre !

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